quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Intervenções Urbanas

Entre o museu e o outdoor


Por Leandro Pereira Beguoci

Um outdoor está na rua para vender um produto. Como são muitos, você vê mesmo quando não quer. Já o que está em um museu você só vê se pagar. E aparentemente, um outdoor não tem nada a ver com um museu. Só aparentemente, desde o surgimento de uma ideia que pegou a arte e a jogou na rua, como um outdoor. O nome dessa ideia é intervenção urbana e sobre ela pairam tantas divergências que é melhor a gente começar com uma história.

Nos anos 70, 3 estudantes de artes plásticas de São Paulo queriam protestar contra a ditadura no Brasil. Mas eles não queriam só fazer um protesto. Eles também queriam se divertir. Hudinilson Jr., Mário Ramiro e Rafael França decidiram encapuzar estátuas. Não sobrou ninguém: dom Pedro I, anjos, bustos de padres, engenheiros, militares. Todo mundo que, segundo a opinião do grupo, era identificado com o regime foi encapuzado. Os 3 passaram a manhã seguinte ao telefone, ligando para os jornais. “Cada um inventava uma história e se passava por um advogado indignado, uma vizinha brava, uma velha assustada. Saiu em todos os jornais”, diz Hudinilson Jr.

O sucesso da primeira intervenção levou a uma segunda: eles “lacraram” a porta das principais casas de exposição de arte de São Paulo usando fita crepe. Embaixo da porta, ia um manifesto que dizia: “O que está dentro fica, o que está fora se expande”. A essa altura, o grupo já tinha adotado o nome de 3NÓS3 e tinha conseguido atormentar os seus 2 principais inimigos: os militares e os donos de galerias de artes plásticas.

O que são as intervenções

A história do grupo 3NÓS3 deixa claros 4 pontos fundamentais sobre intervenções urbanas. O primeiro é que, como um outdoor, elas estão na rua, um espaço público, e são feitas para todo mundo ver. O segundo é que, como a arte do museu, foram criadas para expressar o ponto de vista e/ou sentimentos de uma pessoa – ou de um grupo. O terceiro é a intenção de protestar contra um problema: o governo, a poluição visual, a correria do cotidiano, por exemplo. Mas é o último ponto que realmente separa as intervenções urbanas de qualquer outro tipo de arte: uma intervenção exige uma bela dose de bom humor, provocação e irreverência.
                                Grupo 3nós3                                                            Fonte: Vídeobrasil  on-line


Fora isso, qualquer definição do que seja uma intervenção urbana vira um passo tão ousado quanto definir o que é e o que não é arte. Para Maria Angélica Melendi, professora da UFMG e pesquisadora do assunto, as intervenções são uma reação contra a degradação do espaço público. Nelson Brissac Peixoto, autor do livro Intervenções Urbanas – Arte/Cidade e um dos coordenadores do projeto homônimo, que realiza intervenções em São Paulo, concorda. “Nossa intenção é provocar as pessoas para que elas percebam que a cidade não é apenas um lugar para ser explorado, é um lugar para ser vivido”, diz. Assim, intervenções urbanas tornaram-se uma espécie de manifesto contra o excesso de placas de publicidade, a especulação imobiliária, a falta de áreas verdes.


Os artistas também fazem de suas obras um manifesto contra os museus e as galerias. É comum que elas tragam uma crítica ácida e teimosa contra a forma como a arte é exposta e a maneira como as pessoas têm – ou não têm – acesso a elas. Muitos dos grupos que fazem intervenção urbana relutam em receber patrocínio e se orgulham em dizer que passam longe dos museus.

                                             Interdição , 1979 - São Paulo/Grupo 3nós3                                       Fonte: Vídeobrasil  on-line

 

O Guggenheim, um museu com filiais em Nova York e Las Vegas (EUA), Bilbao (Espanha), Veneza (Itália) e Berlim (Alemanha), é considerado uma espécie de “McDonald’s” dos museus e se tornou inimigo público número 1 dessa galera. Túlio Tavares, artista de São Paulo e criador do coletivo Nova Pasta, um grupo que se especializou em fazer intervenções em favelas e ocupações de sem-teto, explica a rejeição. “A nossa arte não é para colecionador, é para todas as pessoas.”

Texto extraído da revista Super interessante, edição maio 2009.


 Visite também sites de artistas que trabalham com intervenção e vejam vídeos:

http://reginasilveira.com/#



Festival de Banksy Cans. Foto: Jim Dyson / Getty Images                                Fonte: Guardian.co.uk

Um comentário:

  1. It’s easily probably the greatest websites in the world phrases of|when it comes to|by method of} visitors, and there are day by day tournaments galore, properly as|in addition to} a variety of|quite a lot of|a big selection of} different gamers to compete in opposition to. And while fee methods are a tad on the slender side in comparison with} some rivals, payouts are at least of|no much less than} tremendous fast and dependable. Live customer support is essential for such casinos because you never know when you would possibly face a problem. So, we ensured that each portal we selected had the most effective 퍼스트카지노 and quickest customer support. Finally, we ensured each portal had a number of} deposit choices as a substitute of relying on the everyday bank card deposit methods.

    ResponderExcluir