domingo, 17 de abril de 2016

O que é Arte Indígena ?

Pintura Corporal Pataxó - Foto Carla Camuso
Aproveitando a proximidade do dia 19 de abril, dia em que acontecem eventos dedicados à valorização da cultura indígena nas instituições educacionais, museus e principalmente nas aldeias espalhadas por todo o Brasil, aproveitamos para trazer também alguma contribuição  sobre as manifestações culturais dos povos indígenas no campo artístico.

Sabemos que o Brasil, em sua maior parte, pouco conhece sobre a realidade desses povos, até porque nas escolas o ensinamento se limita a um índio pertencente a um passado distante, destituído do direito de evolução.
Esse assunto poderia render linhas e linhas de discussão, mas para abreviar a história, acho bastante pertinente uma leitura do texto: Cinco ideias equivocadas sobre os índios do Prof. Dr. José Ribamar Bessa Freire, que encontrará na página no livro Cineastas indígenas (p.18)

Voltando ao que nos interessa de fato, eu pergunto:
E sobre a arte?
Você conhece ou sabe o que diferencia Arte de Arte Indígena?
Parece óbvio já que o nome insinua uma explicação, mas existem pequenos detalhes a serem elucidados.

Grafismo Kariri Xocó - Rep. Carla Camuso
Inicialmente é necessário esclarecer que a palavra "ARTE" possui um conceito genérico ocidental. Alguns pesquisadores buscaram encontrar palavras indígenas que pudessem exprimir a definição da arte da forma como conhecemos, mas não foi encontrado nada similar.
Existem vocábulos em diferentes línguas indígenas que representam "desenhos" ou "grafismos", outros que representam "danças", e por aí vai. Nada que englobe todas as manifestações. 

Assim, inspirada nesses mesmos pesquisadores de renome sobre o tema a exemplo de Berta Ribeiro e mais contemporaneamente Els Lagrou, farei uma breve explicação e obviamente com um viés mais contemporâneo para o termo Arte Indígena:

Cabaças Pataxó Hãhãhãe.




Pintura corporal, tecelagem, cerâmica, escultura, arte plumária... Não importa o gênero.
Decorativo, utilitário, ritualístico, comerciável ... Não importa a finalidade.
Bonito, esquisito, complexo, simples... não importa a apresentação estética.
Não importa nem mesmo se é original (característica básica da arte ocidental) ou reprodução fiel dos antepassados por longos e longos tempos. 

A arte indígena engloba toda a produção dos povos nativos de forma coletiva (não é exclusividade de um artista apenas) que define a identidade de um grupo ao ser aprendido por meio da observação dos mais antigos e executado por seus membros, quer seja grafismos das pinturas corporais e artefatos, dança ou música.
Colar Tupinambá

Assim, cada expressão artística de um determinado povo revela a sua essência enquanto nação indígena, a história de seus antepassados, o meio ambiente em que vive, o imaginário coletivo e suas transformações.

Na arte étnica não há as divisões ocidentais tradicionais que separam arte, artesanato, produto artesanal e trabalho manual.   
Tudo se une num mesmo conceito.
Cocar Bororo
Conceito este que irá se subdividir em múltiplos outros de acordo com a diversidade: 
Arte Yanomâmi, Arte Pataxó, Arte Karajá, Arte Kiriri, Arte Baniwa, Arte Tupinambá, Arte Xavante e assim se segue com as mais de 300 etnias existentes no Brasil. 

Por outro lado, precisamos considerar que se compararmos a Arte Indígena com as obras conceituais de Arte Contemporânea encontraríamos mais semelhanças do que diferenças, pois ambas reúnem em um só objeto ou ação todo um sistema simbólico, estético, liberdade de material e de definições limitantes, representação de coletivos,  apreensão da realidade local e regional. 
Balaio Baniwa
 

Por falar em comparação, antes mesmo da contemporaneidade, a arte dos povos autóctones chamada pelos europeus de "primitiva", serviu-lhes de  inspiração para composição das vanguardas na busca do novo, do diferente e que nos foi apresentado como arte moderna. 
Dessa forma, a riqueza e precisão da linguagem estética indígena se posiciona exatamente no mesmo patamar da produção estética ocidental, inclusive se considerarmos que nas duas existem a representação cultural de seus respectivos modus vivendi por meio de uma linguagem própria que caracteriza as particularidades de uma nação.  



Saudações Culturais
Carla Camuso
Licocós - Bonecas Karajá

Nenhum comentário:

Postar um comentário